CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS LINGUAGENS
TURMA A
RESENHA
LOPES, Amanda
Cristina Teagno. Educação infantil e
registro de práticas. São Paulo: Cortez, 2000 (Coleção docência em formação. Série
educação infantil).
Resenhado por:
Kátia Felipini de Almeida.
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O livro “Educação
Infantil e registro de práticas” de Amanda Cristina Teagno Lopes é uma
publicação da Editora Cortez do ano de 2009. É composto de 4 capítulos, sendo
que o capítulo I aborda sobre registro;
o capítulo II sobre registro e memória; o capítulo II sobre o registro de
práticas pedagógicas e o capítulo IV trás as considerações finais.
A obra em questão é
fruto da dissertação de mestrado apresentada pela referida autora à Faculdade
de Educação da universidade de São Paulo na linha de pesquisa didática, teoria
do ensino e práticas escolares.
Na introdução
Amanda Cristina Teagno Lopes apresenta a sua obra, ressaltando que o livro fala
sobre os educadores, educação infantil e registro de práticas escolares.
Trata-se, portanto, do esforço no sentido da melhoria da qualidade do ensino e
mostrar à sociedade e as políticas públicas o valor da educação, dos
professores e de suas práticas. A educação é mantida como espaço de
transformação de mudança e de criação.
A autora inicia o
capítulo I falando sobre a sua intenção de construir o conceito da palavra
registro, para isso ela mantém o diálogo com alguns autores como: Madalena
Freire, Paulo Freire, Cecília Warschauer, Miguel Zabalza, dentre outros.
Para Zabalza a
produção de registro diário é entendida como diálogo que o professor por meio
da leitura e reflexão trava consigo mesmo. Para o referido autor o diário é uma
forma significativa de registro, pois nele é possível o educador expressar seus
anseios, dúvidas, valores e crenças.
Cecília Warschauer
ensina que o registro possibilita a formação, a reflexão, a construção da
memória e da história. Júlia Oliveira formosinho e Ana Azevedo também apontam a
importância do registro dando ênfase aos portfólios. Para elas o registro
possibilita a compreensão da realidade e consequentemente sua transformação.
Madalena Freire
situa o registro como instrumento metodológico ao lado do planejamento, da
observação e da avaliação. Para Paulo Freire registrar pode ser considerado ato
de estudar, o que pressupõe observação e leitura da realidade, construção de
sentido para aquilo que nos é apresentado.
Sobre o educador e
o registro Amanda Cristina Teagno Lopes corrobora que a formação docente é
empobrecida de atividades de registro, pois não se discute e incentiva o
professor a ser um professor leitor e escritor. Preciso haver na prática do
educador a relação entre registro e memória para que assim o educador seja
produtor e autor de sua própria história. Para isso o educador deve ter acesso
ao mundo da arte, da literatura e da cultura.
Registro demanda escrita, linguagem, pensamento,
produção e leitura não apenas de textos acadêmicos. O registro da prática
docente serve como instrumento de reflexão e de melhoria da qualidade do
ensino.
Ainda neste capítulo a autora pontua a necessidade da
realização de registros através da linguagem verbal e não verbal, pois uma
imagem é texto a ser lido e interpretado assim como se faz com a palavra
escrita. Madalena Freire propõe aos professores que façam registros das aulas,
mas não somente registros em forma de texto narrativo, mas também registros não
verbais e que posteriormente reflitam sobre os mesmos.
O registro deve ser uma prática diária tanto do
professor quanto do aluno. Este deve registrar suas descobertas, escrever e
desenhar de acordo com seus conhecimentos, colocar sua marca nos registros; relatar
a história de seu aprendizado. É preciso que o professor considere o desenho do
aluno como forma de registro ao lado da escrita, como forma de pensamento e
meio de expressão. Os registros de professores e alunos se unem na construção
de memórias, de identidade e de aprendizagem.
Amanda Cristina Teagno Lopes inicia o capítulo II
abordando sobre o registro no contexto da Educação Infantil. Para ela os
registros no contexto da Educação Infantil. Para ela nos registros dos alunos da
Educação Infantil transparecem além dos conteúdos e atividades também emoções,
sentimentos, ou seja, as especificidades da criança, do educador e da
instituição de Educação Infantil.
O registro é tão
importante na Educação Infantil que o próprio Referencial Curricular Nacional
para Educação Infantil aponta a observação do registro como instrumentos
essenciais ao processo de avaliação da aprendizagem e do desenvolvimento. O
registro é, portanto, elemento imprescindível ao trabalho na Educação Infantil.
Posteriormente, no
item 2 do capítulo II, Amanda C. T. Lopes, pontua que por meio da pesquisa
documental realizada verificou que os professores da Educação Infantil tanto da
rede estadual como municipal de São Paulo fazem poucos registros já que nos
acervos consultados eles não foram encontrados. O que tinha eram poucos relatos
de professores nos documentos publicados.
Nos parques
infantis também não foram encontrados cadernos de registros produzidos pelos
professores que ali atuavam. Já os relatos produzidos pelas educadoras
sanitaristas e recreacionistas são poucos, mas estão presentes nas publicações.
Consta de narrativas de experiências e reflexões sobre práticas desenvolvidas.
No item 3 do
capítulo II a autora fala sobre o registro e a produção na Escola Nova. De
acordo com a Amanda Cristina Teagno Lopes no período de 1932 a 1937 havia
valorização do registro no curso de formação de professores, eram feitos os
registros das atividades de observação, participação e direção nas salas de
aula das escolas primárias. Cada aluno anotava em um questionário, aspectos
referentes a conteúdos, encaminhamentos, participação dos alunos e atuação da
regente.
O registro
funcionava como instrumento de apoio à discussão sobre o observado. Inquéritos
e relatórios também eram produzidos pelos professores dos diferentes níveis de
ensino e pelas alunas do curso de professores.
Para a autora a
construção de práticas de registro da ação pedagógica por parte dos educadores
constitui em importante contribuição para a formação em serviço para a melhoria
da qualidade do ensino para a produção de saberes no espaço da escola.
Registrar é produzir conhecimento e produzir conhecimento é valorizar a prática
pedagógica e o ofício docente.
Amanda Cristina
Teagno Lopes explica que o capítulo III de seu livro tem por objetivo buscar
uma aproximação aos registros produzidos
por professores no contexto da Educação Infantil e compreender seu papel na
formação, no desenvolvimento profissional e na melhoria da qualidade da ação
docente.
De acordo com a
autora é possível identificar diferentes tipos de registros produzidos pelos
professores como registros formais, diário de classe, ata de reunião, livro de
registro do trabalho coletivo. Entretanto, a autora centralizou a sua análise
nos cadernos de registro diário e nos portfólios. Sendo que os cadernos e os
portfólios foram produzidos no contexto
de uma escola municipal de Educação Infantil
Os registros
diários constavam de apontamentos em que o professor relata seu dia, refletindo
sobre acontecimentos, atividades, alunos e sua própria atuação. Nos registros
produzidos durante o ano de 2003 existiam muitas referências a conversas com a
coordenadora pedagógica da escola e às reflexões delas decorrentes. Nos
registros diários de 2001 prevaleciam a narração/descrição/análise de elementos
como grupo, alunos e atividades, sendo a narrativa uma rotina diária. Os
diários de 2002 apresentavam-se um pouco mais reflexivos. Descrição, análise,
reflexão e encaminhamentos parecem constituir o eixo estruturador dos relatos
produzidos nesse ano, fazendo que os registros se tornem mais detalhados e
minuciosos.
No item 2 do
capítulo III a autora fala sobre portfólios de projetos . Estes representam a
construção da memória, de história, tornando possível ainda o intercâmbio de
experiência e a divulgação de um trabalho. Os portfólios produzidos no período
de 2000 a
2003 referem-se relatos de projetos desenvolvidos junto ao grupo de crianças.
Implícita ou explicitamente eles fazem referência ao contexto institucional e,
sobretudo, às concepções subjacentes às ações. Neles, narração e reflexão estão
presentes.
Para Amanda
Cristina Teagno Lopes os portfólios são registros que apontam os percursos,
procedimentos e formas de apontamentos. Eles possibilitam a autoformação e
também podem ser valiosos instrumentos de socialização e troca de experiências
entre professores, que favorecem a produção e sistematização de conhecimentos
produzidos na prática.
De acordo com a
autora também foi possível encontrar nos arquivos pessoais dos professores
outras espécies de registros nos arquivos pessoais dos professores, como por
exemplo: projetos coletivos, proposta de trabalho para determinadas turmas,
relatórios gerais de atividades. Esses registros concretizam a produção e a
divulgação de saberes pelo professor, a narração da experiência e a formação em
serviço.
Para Amanda
Cristina Teagno Lopes o professor produz diferentes tipos de registros, tanto
formais como informais, mas, todos contribuem de alguma maneira para a execução
do trabalho docente e contam uma história.
A autora esclarece
que ao analisar os cadernos de registros e os portfólios dos professores
verificou-se que a função do primeiro difere da do segundo, pois enquanto nos
caderno de registro aparece toda a problemática e a complexidade do real, no
portfólio encontravam um processo percorrido, uma narrativa contínua, sem
interrupções ou dúvidas.
A autora ao
analisar as inter-relações entre portfólio, registro diário e registros
produzidos pelas crianças verificou que era possível identificar o movimento
presente não apenas no processo de escrever, mas também na própria ação
pedagógica.
Amanda Cristina
Teagno Lopes no capítulo IV de sua obra apresenta as considerações finais,
momento em que ela diz que pensar o registro é valorizar o trabalho docente,
entendendo-o como profissão que demanda conhecimento, estudo e reflexão
sistemática.
Para a autora o
registro deve possibilitar a construção de um saber válido com base na reflexão
e no diálogo com a teoria. E isso não é tarefa fácil, pois precisa de
intervenção e tempo, pois é construção, processo e não técnica, receita.
O registro de
práticas pode ser considerado meio e fim para a melhoria da ação pedagógica. É
meio para o planejamento, a reflexão, a avaliação, o desenvolvimento
profissional, e também constitui em um documento, registra memória, expõe um
processo e representa produção de saberes.
Entretanto,
Amanda Cristina Teagno Lopes diz ter percebido que os registros ainda
constituem uma atitude individual, como a produção dos professores para si
mesmos, já que as possibilidades de interlocução com outros professores e com a
coordenação era bastante restritas. Assim, a autora acredita que há necessidade
de passar do registro como atitude individual ao registro como projeto
institucional. É preciso que o registro seja incorporado ao projeto
político-pedagógico em ação, à cultura escolar, a sistema de forma mais ampla.
Registro demanda intervenção, escuta, socialização, para
que possibilite efetivamente a
construção coletiva do conhecimento e a
emancipação, a autonomia.
No item 3 do capítulo IV a autora lembra que documentar
experiência possibilita a formação do educador em serviço, pois registrar é
produzir história, é construir saberes com base na prática, é desenvolver-se
pessoal e profissionalmente. É ler a realidade, pensar, agir. É conhecer,
entender, refletir para poder transformar. E cabe a formação possibilitar ao
educador a leitura do mundo, o desvelamento da realidade, a apropriação de seu
fazer, ato de libertação e transformação. A formação precisa promover o pensar reflexivo
e crítico, o estudo, a produção de conhecimento, a socialização de saberes, a
melhoria da prática.
O livro de Amanda Cristina Teagno Lopes é uma obra
escrita por meio de uma linguagem simples de fácil entendimento, por isso ela é
indicada tanto para profissionais como acadêmicos da área da educação,
principalmente da Educação Infantil, já que a obra trata das práticas de
registro nesta fase da escolaridade.
Vale salientar que os registros fazem parte da prática
diária do professor mas nem sempre recebe a atenção merecida, por isso torna-se
imprescindível que os registros feitos pelos educadores na escola sejam
organizados e publicados, pois poderão constituir futuramente ricos materiais de
pesquisa que poderão enriquecer a prática de futuros educadores.